O tamanho da obra indica que tudo – ou praticamente tudo –que os mais fanáticos pelos ROLLING STONES se interessariam a respeito do passado de KEITH RICHARDS está devidamente contado aqui. As histórias de família aparecem na primeira parte do livro: a infância complicada de KEITH RICHARDS na escola e as primeiras aulas de saxofone com o avô Gus. O início da amizade com MICK JAGGER também está relatada no início de “Vida”. Os dois se conheceram por volta dos doze anos de idade em um colégio em Bexley que os ambos – obviamente – detestavam. No entanto, os primórdios da banda que viria a ser um dos principais ícones do rock n’ roll que merece a parte mais nobre do livro. Os detalhes relembrados com riqueza pelo principal compositor dos ROLLING STONES remetem ao início dos anos sessenta e impressionam até mesmo quem possui uma memória de elefante.
O ano era 1962 e os ROLLING STONES davam os seus primeiros passos sob a tutela da dupla Jagger/Richards e com músicas coverizadas de DICK TAYLOR e de BOB BECKWITH. A inexperiência e a falta de dinheiro obviamente que foram as primeiras barreiras enfrentadas pelo quarteto inglês que apenas queria executar um blues tipicamente norte-americano. Entretanto, a entrada de CHARLIE WATTS e qualidade da performance ao vivo do conjunto determinaram o sucesso imediato da banda que – um ano após ser formada – assinava o seu primeiro contrato com a gravadora Decca. Os detalhes de uma carreira forjada com muito suor e comprometimento são relatados por KEITH RICHARDS de maneira clara e interessantíssima. Não há dúvidas de que “Vida” é uma biografia ampla e que precisa ser absorvida com calma e paciência pelo leitor. A riqueza de detalhes é claramente o trunfo da obra e o grande atrativo para quem quer conhecer a figura fascinante de KEITH RICHARDS.
O discurso de KEITH RICHARDS também precisa ser enaltecido em “Vida”. O guitarrista pouco parece se importar com uma espécie de autocensura e revela muita coisa que talvez outros músicos não tivessem a coragem de afirmar a respeito de si mesmos. Os ROLLING STONES enfrentaram uma crise criativa no início da sua carreira e a dupla Jagger/Richards – que escreveria uma série de hinos para o rock n’ roll ano depois – praticamente desistiu da tarefa de compor antes mesmo de gravar as suas primeiras faixas de “The Rolling Stones” (1964). Porém, o sucesso arrebatador da performance ao vivo do conjunto – que curiosamente era baseada em músicas de outros artistas como CHUCK BERRY e JIMMY REED – levou Richards & Cia. para a primeira turnê pelos Estados Unidos dois anos após o debut chegar às lojas inglesas. A fama veio no mesmo ano com a música “(I Can’t Get No) Satisfaction”.
A vida pessoal de KEITH RICHARDS aparece com muito destaque no decorrer do livro, sobretudo a partir do momento que o músico passa a consumir drogas – cada vez mais pesadas com o tempo. O relacionamento conturbado da banda com o guitarrista BRIAN JONES é outro ponto que ganha importância e chega a antecipar os conflitos que viriam nos anos oitenta em noventa com MICK JAGGER. Por mais que os ROLLING STONES sempre passassem a imagem de uma banda puramente rock n’ roll e descompromissada com qualquer outra coisa além da música, a verdade é que as brigas internas pelo poder sempre existiram. O bacana de “Vida” é que KEITH RICHARDS é sempre muito sincero quando fala (mal) de BRIAN JONES e (bem) de MICK JAGGER. Os conflitos e as drogas explicam também todo o ambiente caótico que dominou o relacionamento do músico com a sua primeira esposa – Anita Pallenberg – e os problemas com a polícia e as autoridades de países como Estados Unidos e Canadá. O ácido e a heroína consumiam boa parte da vida do guitarrista e não é por acaso que o relato deixa um pouco os ROLLING STONES de lado para buscar uma nova abordagem para o relato biográfico.
Os discos “Their Satanic Majesties Request” (1967) e “Beggars Banquet” (1968) até podem aparecer como pano de fundo no relato conduzido por KEITH RICHARDS na metade para o final do livro. Entretanto, os detalhes que o guitarrista dá sobre a forma que escreveu e executou músicas como “Brown Sugar” e “Jumpin’ Jack Flash” – a última apontada como um divisor de águas no seu modo de ver o instrumento de seis cordas – passa a se tornar um valioso documento histórico. Por mais que alegue que as drogas nunca tenham afetado o trabalho dos ROLLING STONES, as memórias de KEITH RICHARDS indicam exatamente o contrário. A saída de BRIAN JONES – e a sua posterior morte ainda envolta de mistério – e as brigas judiciais por porte de drogas que adiaram turnês e temporadas em estúdio comprovam isso. Porém, o guitarrista venceu as dificuldades impostas pelo vício para compor e gravar um dos maiores clássicos da história do rock n’ roll: “Exile on Main St.” (1972). As histórias que contornam o disco são interessantíssimas e se perderiam se fossem todas contadas aqui. Os interessados em saber que busquem o livro nas lojas.
Embora MICK JAGGER tenha a fama de ser um amante inveterado, KEITH RICHARDS se desenha como um homem que se apaixonou poucas vezes. O relacionamento com Anita Pallenberg – interrompido por causa dos excessos no quesito drogas – antecedeu o segundo e definitivo casamento do músico com a modelo Patti Smith. No entanto, a vida pessoal do guitarrista franzino perde o foco a partir do momento que ele se torna um ex-viciado na década de oitenta para que “Vida” passe a abordar todos os problemas internos enfrentados pelos ROLLING STONES na época. A banda estava prestes em entrar na turnê do disco “Emotional Rescue” (1980) quando se tornou evidente o vício de Ronnie Wood pelo crack e o controle obsessivo de MICK JAGGER sobre os demais músicos. O guitarrista abandonou as drogas e se tornou um membro mais participativo dentro dos negócios da banda – o que foi o estopim para que MICK JAGGER se revoltasse. As recaídas existiam e junto com elas sempre um novo atrito com os policiais e as autoridades vinham junto. Porém, nada na vida pessoal de KEITH RICHARDS se comparava ao ambiente tumultuado que foi o estúdio entre os discos “Undercover” (1983) e “Dirty Work” (1986). O que muita gente não sabe é que a banda esteve muito perto de acabar na época.
A carreira solo malsucedida de MICK JAGGER e a descoberta de que CHARLIE WATTS estava com câncer provavelmente relativizaram um pouco a briga permanente entre as duas almas criativas dos ROLLING STONES. De qualquer forma, as megaturnês sempre foram antecedidas por discos que causaram estresse: “Bridges to Babylon” (1997) e “A Bigger Band” (2005). O modo de ver a música – e consequentemente os ROLLING STONES – distanciaram a dupla Jagge/Richards de um jeito que é difícil de acreditar. Porém, sobre o palco tudo parece se resolver. O livro não deixa nenhuma questão em aberto sobre os últimos anos do grupo. O guitarrista menciona o show realizado no Rio de Janeiro para mais de um milhão de pessoas e conta com detalhes os acidentes domésticos que quase o impediram de continuar tocando ao vivo em 2002.
Embora um pouco pretensioso, KEITH RICHARDS tem razão ao afirmar que “Vida” é toda a sua história. Com mais de trinta páginas de fotos e uma contracapa belíssima (mais bonita até que a própria capa), o livro editado pela Globo é mais do que uma simples biografia – é um documento para ficar na história.
Esse livro fala sobre a vida dele no Rolling Stones e um pouco dele eu acho que quiser comprar aproveite!
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